Estados Unidos da América pós Primeira Guerra Mundial, os soldados americanos retornam para as suas casas vitoriosos , porém sem recursos e dependendo do auxílio do governo.
Mas a economia americana está a todo vapor. Os carros se tornam populares, a luz elétrica está presente em 35% dos lares americanos, o rádio e o jazz ganham força.
Também é o período da emancipação feminina com a conquista do direito ao voto. A moda , o estilo de vida , tudo é transformado. Essa nova geração de mulheres, as flappers ou melindrosas como eram chamadas no Brasil, desafiavam tudo o que era considerado socialmente como "bons modos". Bebiam excessivamente, fumavam, dançavam provocaticamente. A liberdade sexual também estava em efervescência.
A Ku Klux Klan que pregava a ideia da supremacia branca atinge o impressionante número de 4 milhões de membros.
A 18a Emenda à constituição dos EUA juntamente com a lei Volstead act, estabeleceu a lei seca e a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas em todo país. O contrabando de álcool é impulsionado e pessoas como Al Capote se tornam influentes.
Mas nada é capaz de deter a marcha do progresso. O "sonho americano" (American Dream) é possível. Os "Self-Made Man" (indivíduo que se fez por si mesmo) surgem aos borbortões, pessoas enriquecem da noite para o dia.
São os "loucos anos 20", o espírito Roaring Twenties, que representa a libertação das restrições causadas pela primeira grande guerra. É para esse cenário que Fitzgerald nos leva com o seu "O Grande Gatsby", mais precisamente para o verão de 1922, e toda essa atmosfera estará presente.

Nick Carraway é quem nos conta através de suas memórias a história de Gatsby. Esse estilo de narrar através das lembranças de um narrador que não participa diretamente dos fatos é algo que gosto muito na literatura.
Nick vai nos contar que Gatsby é um homem misterioso que chegou ninguém sabe de onde e comprou uma imensa mansão vizinho à sua humilde casa. Patrocinava festas extravagantes regadas a muita bebida (apesar da proibição) e pessoas famosas.
De onde ele vinha, qual a sua história, não importava muito para os frequentadores da mansão que criavam variadas teorias a seu respeito e em todas elas Gatsby não tinha um bom passado, mas ele era jovem, branco, bonito, rico e representava o espírito americano da época.
Todos sabiam que a fortuna de Gatsby não tinha explicação já que ele mesmo era um homem que não falava de si. Seria ele um "Self-Made Man" na melhor significação do termo ou seria ele uma espécie de Al Capote de Long Island?
Nick é um jovem em busca do seu lugar ao sol. Vendedor de títulos em início de carreira e de poucos recursos, se considera acima de tudo, uma pessoa honesta e que evita julgamentos. Ele relembra um ensinamento de seu pai que diz
"Sempre que você sentir vontade de criticar alguém - disse - me ele - , não esqueça de que muitas pessoas deste mundo não contaram com as mesmas vantagens que você. "
É com base nessa carga moral que Nick nos conta a história que lemos.
Ele é primo de Daisy. Daisy é casada com Tom Buchanan , ambos jovens , ricos e infelizes. Tom é um racista , tradicionalmente rico e Daisy é popular, fútil, apegada a esse estilo de vida vazia e que tem a única função no mundo de serem ricos.
A superficialidade das relações, os frágeis vínculos que une as pessoas é um tema forte no romance.
Tudo é muito pomposo e hipócrita porque os verdadeiros sonhos e interesses estão submersos nas profundezas de cada um e a forma como essas "entranhas" do coração humano são mostradas através de personagens magistralmente contruídos é o ponto alto do romance.
As vidas de Nick, Gatsby, Tom e Daisy irão se cruzar. Como? Para isso você terá que ler o romance porque sobre o enredo paramos por aqui. O livro tem vários plots twist e não serei eu a colocar água no champagne de vocês.

Outros temas relevantes na narrativa são a obsessão amorosa , a desilusão, as diferenças regionais (norte/leste), a crença excessiva em si mesmo e na ideia de que seus esforços são suficientes para alcançar o sucesso (afinal, os EUA para os americanos, é a terra das possibilidades), o eterno choque entre o novo e o velho, o passado e o presente.
Isso tudo é reflexo desse período pós primeira grande guerra. Por isso, ler O Grande Gatsby descolado do seu contexto histórico é transformá-lo em um mero folhetim de fofocas da "high society" e quem leu sabe que ele vai muito além disso.
O livro foi publicado em 1925, ainda nos "loucos anos" que se encerrariam com a "terça negra" em 1929. Ele não foi bem recebido pela crítica e foi um verdadeiro fracasso comercial. Acredito que devido ao tom de tragédia que é dado aos destinos de seus personagens, o que vai contra o espírito do progresso sempre crescente que dominava na época e a quebra da ilusão do mito do sonho americano como possibilidade de ascensão.
Gatsby representa a ascensão e o declínio desse mito.
A reflexão final é forte, porém pessimista e me deixou triste e melancólica. Para Nick, a certeza de que há um futuro melhor sempre a nos esperar é uma ilusão porque o sonho, quando pensarmos em tocá-lo, já nos escapou.
Eu prefiro manter a esperança acesa como a luz verde de Gatsby.
Excelente post, li num fôlego só.
Parece ser um livro bom, vou colocar na minha lista de leituras para algum dia 🤗
Sempre quis ler esse livro. Achei a história elegante e interessante. Também gosto de histórias narradas por terceiros, dao um certo tom de magia à trama, tornando -a nostálgica. Seu texto ficou incrível.