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Stoner (John Williams)

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Atualizado: 1 de abr. de 2024

Desde a antiguidade, a literatura é dividida em gêneros. Na divisão clássica são três: o gênero narrativo ou épico, lírico e dramático. Esses gêneros literários podem ser divididos em subgêneros. Por exemplo, o romance é um subgênero do gênero narrativo.


Mas essa divisão pode ser ainda mais ampliada de acordo com o conteúdo que aborda. Assim, no subgênero romance podemos encontrar romances policiais, romances históricos, romances psicológicos (dentre outros) e mais recentemente os chamados romances acadêmicos.


O romance acadêmico pode ser definido como um conjunto de obras de ficção em que a ação se passa, em sua maior parte do tempo, dentro da universidade ou campus. Esses romances geralmente são escritos por professores universitários e também podem ser designados por "campus novel", "academic novel" e "college novel".


É a essa categoria que pertence Stoner (1965), escrito por John Edward Williams, um escritor estadunidense que também foi professor de literatura e escrita criativa na Universidade de Denver por mais de 30 anos.



Nos primeiros parágrafos de Stoner tomamos conhecimento de sua morte. De antemão, já somos informados que William Stoner, o protagonista do romance, foi um professor universitário de literatura inglesa que nunca progrediu na carreira e nem deixou grandes marcas em seus alunos. Viveu e morreu de forma silenciosa como milhões de pessoas.


Então a narrativa nos leva para o início da sua vida e conheceremos os seus principais eventos: sua infância, sua ida para a universidade para estudar ciências agrárias, seu casamento, o nascimento de sua filha, sua carreira como professor e também a sua morte.


Mas Stoner não é apenas sobre a trajetória de vida e morte de um homem comum. Stoner é, acima de tudo, sobre o peso das nossas escolhas. Sobre as bifurcações que encontramos ao longo do caminho e que nos conduzem a uma vida com significado ou a uma imensa sensação de que "tudo poderia ter sido diferente. "


Já próximo do final do romance, Stoner faz o seguinte questionamento:


"Pegou-se perguntando se a vida valia a pena ser vivida, se algum dia valera."

William Stoner, ou Willl ou Bill, como era conhecido no seu limitado círculo social, desde o inicio se mostrou um personagem complexo. A aparência de simplicidade de Stoner vêm muito mais da escrita sem floreios (mas extremamente sedutora ) de John Williams do que da própria estrutura do personagem que esconde algo de impenetrável.


Durante a leitura, essa foi uma sensação constante. Quem realmente é William Stoner? Seus sentimentos,  seus pensamentos,  nunca são mostrados de forma inteira, clara. Uma passividade, um certo conformismo,  sempre acabava interrompendo esse fluxo de revelação. Falas como "não importa", "vai ficar tudo bem", "deixa pra lá ", foram comuns em momentos cruciais da narrativa.


Outra complexidade em sua personalidade é sua dificuldade de conexão. Não conseguia fazer amigos (só teve dois amigos durante toda a sua vida e mesmo assim , sem muita profundidade), se entendia melhor com os personagens dos livros que lia do que com pessoas reais e até mesmo os seus pais , ele os via como "estranhos" e por quem tinha um "amor distante".


Filho único de um casal de agricultores, Stoner nasceu e cresceu em uma propriedade rural em Missouri. A desesperança é o sentimento que melhor define a vida familiar de Stoner.


O pai, mesmo jovem, já era encurvado pela luta árida com a terra. Nunca teve oportunidade de estudar, mas via no conhecimento uma possibilidade de melhores condições de vida.


Sua mãe era uma mulher indiferente à vida e a encarava "como se fosse um longo momento que tivesse de aguentar. "


Essa apatia, essa indiferença com o próprio destino, acabou se tornando também uma marca na personalidade de Stoner.


Ele acreditava que seu destino seria igual ao dos pais. Terminaria os estudos e trabalharia na fazenda como fizera desde os 6 anos de idade.


Mas um agente rural convence o pai de Stoner a enviá-lo para a universidade.  Estudar ciências agrárias, aprender novas técnicas de plantio,  conhecer novas tecnologias e retornar para a fazenda para aplicar todo o conhecimento adquirido e , assim quem sabe, terem um futuro menos sofrido.


E Stoner foi. Não por decisão própria,  mas por seguir o "scritp" pré -  determinado pelas circunstâncias. Não por impeto de vontade,  mss porque era o que esperavam dele e era o que ele deveria fazer.


E em 1910, Stoner ingressou como calouro na Universidade de Columbia para não mais sair.


Continuou trabalhando nas terras de uns primos de sua mãe,  os Foote,  em troca de moradia e alimentação para conseguir estudar.


"Fazia o trabalho na Universidade assim como na fazenda  - minuciosa e responsavelmente, sem prazer ou aflição."

Foi um aluno mediano em seu primeiro ano na Universidade,  mas ao iniciar  o segundo ano, a primeira grande bifurcação aparece aos seus olhos.



Foi em uma aula de literatura inglesa, uma disciplina obrigatória para todos do campus, ministrada pelo professor Archer Sloane sobre Shakespeare que Stoner se encantou e se apaixonou por literatura.  Um sentimento de perturbação, inquietude, o incomodou como nunca antes sentira.


O professor o faz a seguinte pergunta :


" O Sr. Shakespeare fala com você através de trezentos anos, Sr. Stoner, você consegue escutá-lo?"

E Stoner escutou. Tão profundamente que não conseguiu expressar. Parecia estar "fora do tempo."


Esse momento foi um divisor de águas na vida de Stoner , pois a partir daí ele decide que estudaria letras,  decisão que só comunicou aos pais no momento da formatura.


Essa decisão de abandonar agronomia e não retornar para a fazenda, afetou também a vida de seus pais que tiveram que trabalhar na terra até o fim da vida.


Ao enterrá-los, diante de seus túmulos, Stoner reflete sobre o que tinha sido suas vidas de uma forma muito tocante.


"Ele a enterrou ao lado do marido. Depois que o funeral terminou e os poucos enlutados haviam partido, ficou sozinho no frio vento de novembro e olhou para os dois túmulos, um aberto ao seu fardo e o outro com um montinho e coberto por uma fina camada de grama. Voltou-se para os outros jazigos simples e sem árvores que continham outras pessoas como sua mãe e seu pai, e olhou através da planície na direção da fazenda onde ele havia nascido, onde seus pais passaram suas vidas. Pensou no sacrifício  exigido, ano após ano, pelo solo; e que permaneceu como havia sido - um pouco mais árido, talvez, um pouco mais estéril. Nada havia mudado. Suas vidas haviam sido gastas em labor melancólico, seus ânimos alquebrados, suas inteligências anestesiadas. Agora eles estavam na terra à qual haviam dado suas vidas; e lentamente, ano após ano, a terra iria tomá-los. Lentamente a umidade e a decomposição infestariam as caixas de pinho que continham seus corpos, e lentamente tocariam suas carnes e, finalmente, consumiriam os últimos vestígios de suas substâncias. E eles se tornariam uma parte insignificante daquela terra teimosa à qual eles, há muito tempo, se entregaram."

Não nos cabe fazer juízo de valor sobre as escolhas que não são nossas, se Stoner por exemplo, agiu certo ou errado ao seguir outro caminho na vida, mas podemos refletir sobre o quanto nossas decisões impactam outras pessoas.


O fato é que Archer Sloane revela a Stoner sua paixão pela literatura e o incentiva a seguir a carreira acadêmica.


Stoner faz mestrado, doutorado e se torna professor assistente na mesma universidade que, desde os 19 anos de idade se tornou a sua morada, função que desempenhará até pouco antes de falecer.


Outro momento decisivo em sua vida é quando estoura a primeira guerra mundial. Todos,  inclusive os universitários, são convocados a tomarem uma posição diante do conflito.


Nesse momento em que era preciso escolher, Stoner conversa com o Professor Sloane que, de certa forma, se tornou uma espécie de mentor e que acaba por  lhe mostrar o caminho. Ele diz:


"Deve se lembrar o que você é e o que escolheu se tornar, e a importância do que está fazendo. Há guerras e derrotas e vitórias da raça humana que não são militares e que não estão registradas nos anais da história. Lembre-se disso enquanto estiver tentando decidir o que fazer. "

Stoner então, diferente de seus colegas do departamento,  decide não se alistar e permanece na universidade. Essa dificuldade de conexão externa que era um traço de sua personalidade,  o impede de ter "sentimentos de patriotismo" e de ver motivos para "odiar os alemães ".


Após o fim da guerra, em uma festa na casa do pró - reitor da universidade, Stoner conhece aquela que viria a se tornar sua esposa, Edith Bostwick.


Desde o início, Edith se mostrou uma personagem complexa. Recebeu uma educação excessivamente formal, tinha pouca (ou quase nenhuma) atenção dos pais e desde cedo desenvolveu uma personalidade solitária e melancólica.


Desde o ventre sofreu a rejeição do pai que queria um filho do sexo masculino e claramente, no decorrer da narrativa,  percebemos que Edith tinha um trauma ligado à figura paterna , especialmente na cena após o velório do pai.


"(...) a outra pilha consistia naquelas coisas que seu pai havia dado para ela e de coisas com as quais ele estivera direta ou indiretamente conectado. Foi a pilha que ela deu a sua atenção. Metodicamente, sem expressão, raiva ou alegria, pegou os objetos ali, um por um, e os destruiu. As cartas, as roupas, os estofamentos das bonecas, as alfineteiras  e pinturas, queimou-os todos na lareira; e o que sobrou, após queimar e esmagar, ela varreu em uma pilha pequena e deu descarga no caso sanitário do banheiro adjacente ao seu quarto."

Por todas essas questões, seu comportamento e temperamento, percebemos que Edith desenvolveu algumas psicopatologias. Ela tinha dificuldade em firmar o núcleo de sua personalidade, mudava constantemente suas preferências,  seu modo de agir, de vestir, e em camadas mais profundas, não possuia uma base existencial sólida, uma identidade definida. Era fria e distante até mesmo no ato sexual.


Um comentário constante do narrador acerca de Edith é que não havia expressão alguma em seu rosto.


Eles casaram e desde a lua de mel Stoner tomou consciência do fracasso do seu relacionamento  e que a vida com Edith não seria fácil, mas mesmo em dúvidas, decidiu casar e mesmo sabendo disso (que era uma relação fracassada) decidiu continuar.


Tiveram uma filha,  Grace, compraram com muito sacrifício uma casa e essa aparência de vida comum ocultava o caos que era a vida de Stoner.


Edith, primeiramente o expulsou do quarto, depois do quarto do andar debaixo da casa que ele havia transformado em escritório, tendo que dormir em um pequeno sofá na sala de estar, o silêncio imperava nos poucos instantes em que dividiam a mesa do café, ela também procurava atrapalhar todos os momentos de trabalho e estudo do marido e Stoner passou a se refugiar cada vez mais no campus.


A convivência com a filha era a única ocasião que proporcionava a Stoner algo próximo ao sentimento de felicidade.


Após o nascimento de Grace, Edith passou a ficar cada vez mais adoecida,  mal saía da cama, e foi Stoner quem assumiu os cuidados da criança e da casa.


Mas ao perceber que a relação entre pai e filha se fortalecia,  Edith deu um jeito de afastar a menina do pai.


Stoner não reagia. Essa passividade que tomava conta de sua personalidade desde criança continuou com ele até o fim da sua vida. Assim, Edith era quem ditava as regras.



Sem ter um lugar até mesmo para dormir, impedido de conviver com a filha, Stoner novamente se volta para os livros e para o trabalho.


Era a sua forma de enfrentar as angústias da sua existência. O trabalho e a intelectualidade acabaram por ser esse mecanismo de defesa desenvolvido por Stoner para suportar.


Freud falava de alguns mecanismos de defesa psíquicos que desenvolvemos para encarar nossas angustias, um deles é a sublimação (Nietzsche também tratou desse tema, especialmente a sublimação através da arte).


Sublimar vem de engrandecer, exaltar. Transformar, por exemplo, sentimentos inferiores como angústia, tristeza, frustração,  em sentimentos superiores, torná-los sublimes.


Existem várias formas de sublimar, uma delas é pelo trabalho e também pela intelectualidade.


E foi assim que Stoner tentou escapar.


"Finalmente, percebeu que o trabalho se tornara um refúgio,  um abrigo, uma desculpa para ir para o escritório a noite. Ele lia e estudava e por fim encontrou algum conforto, algum prazer e até mesmo um vestígio da antiga felicidade naquilo que fazia, um aprendizado para nenhum fim específico. "

A literatura foi o meio pelo qual Stoner tentou se salvar de seu caos existencial.


Mas Aldous Huxley, em seu romance de ideias "Contraponto", irá fazer um alerta sobre essa  fuga pela intelectualidade. Ele dirá  que isso é  uma tendência contemporânea de distração das próprias tristezas, como se a vida intelectual fosse um "brinquedo de criança " , um divertimento, que nos faz procurar as universidades como os beberrões procuravam as tavernas.


"Percebo agora que o verdadeiro encanto da vida intelectual — da vida consagrada à erudição, à pesquisa científica, à filosofia, à estética, à crítica — é a sua facilidade. É a substituição de simples esquemas intelectuais em lugar das complicações da realidade; da morte silenciosa e rígida em lugar dos movimentos desconcertantes da vida. É incomparavelmente mais fácil saber muitas coisas, digamos sobre a história da arte, e ter ideias profundas sobre metafísica e sociologia do que conhecer pessoalmente, intuitivamente, os seus semelhantes e ter relações satisfatórias com seus amigos e suas amantes, sua mulher e seus filhos. Viver é muito mais difícil que o sânscrito, que a química ou que a economia política. (...) Uns afogam suas tristezas no álcool, mas outros, ainda mais numerosos, as afogam nos livros e no diletantismo artístico; uns procuram achar o esquecimento de si mesmos na libertinagem, na dança, no cinema, no rádio; outros nas conferências e nas ocupações científicas. Os livros e as conferências são melhores para afogar as mágoas do que a bebida e a fornicação; não deixam dor de cabeça nem essa sensação desesperante do post coitum triste. (...) Terei algum dia bastante força de espírito para me livrar desses hábitos indolentes de intelectualismo e para consagrar minha energia à tarefa mais séria e mais difícil de viver integralmente?"

A literatura nos salva na medida que nos dá repertório para enfrentarmos as circunstâncias da nosso própria existência, ampliando nossa capacidade de ação. Não foi bem a forma como a literatura salvou Stoner que se manteve passivo e aceitando todos os infortúnios que lhes eram impostos de maneira apática e conformada, mas é inegável que foi ela quem deu algum sentido a sua vida, não apenas como leitor e escritor, mas especialmente como professor.


Caminho bem diferente foi seguido por Grace, sua filha, o caminho dos vícios. Ela também era completamente indiferente à sua vida. Aceitava todas as imposições da mãe , dando pouca ou nenhuma importância ao seu destino.


Era Stoner quem melhor conhecia Grace, apesar da pouca convivência e de não ter feito muito para mudar a sua situação. 


" Ela era, ele sabia - e soubera desde muito cedo, supunha -, um daqueles seres humanos raros e sempre amáveis, cuja natureza moral era tão delicada que devia ser nutrida e cuidada para que pudesse se realizar. Alheia ao mundo, essa natureza tinha de viver onde não se sentia em casa; ávida por ternura e quietude, ela tinha de se alimentar de indiferença, insensibilidade e barulho. Era uma natureza que, mesmo no lugar estranho e nocivo onde tinha de viver, não tinha a selvageria para lutar contra as forças brutais que a opunham, e só conseguia se retrair para uma quietude na qual estava desamparada, apequenada e imóvel. "

Grace não se refugia nos livros. Seus mecanismos de fuga foram o sexo casual, uma gravidez com um rapaz que pouco conhecia que lhe proporcionou a chance de sair de casa e o alcoolismo.


Quando Grace anuncia sua gravidez, Edith decide que ela deveria casar. Stoner tenta argumentar que a decisão deveria ser de Grace e ela diz :


" No fundo, não importa. Não quero incomodar."

Se na esfera doméstica Stoner enfrentava problemas, no campus sua vida não foi mais tranquila. Ele via a universidade como um lugar sagrado que todos deveriam zelar. Ele tinha uma visão idealista do ambiente acadêmico.


Ele recebeu em uma de suas turmas um aluno novo chamado Charles Walker que era protegido de Lomax, o chefe de departamento e por consequência, chefe imediato de Stoner.


Stoner não aprova o aluno e por conta dessa sua decisão sofre durante toda a sua vida acadêmica, dali em diante, a perseguição de Lomax que alterava seus horários e dificultava sua carreira como podia.


Stoner,  mais uma vez, aceita as perseguições de Lomax sem protestar. Para ele, era uma missão defender a universidade de pessoas como Walker, um fanfarrão preguiçoso, irresponsável e medíocre, e nada mais importava.


Se tem algo que podemos dizer de Stoner é que ele nunca , até o dia da sua aposentadoria,  se deixou vencer pelo corporativismo.


Após a questão com Walker, Stoner ficou ainda mais ilhado. Passou a ficar bastante tempo sozinho em seu escritório, seu grau de angústia e insatisfação chegou a tal ponto que ele teve episódios dissociativos,  que também é outra forma de defesa psíquica que possuímos.


" Durante aquele ano, e especialmente nos meses de inverno, viu-se retornando cada vez mais frequentemente para aquele estado de irrealidade; conforme quisesse, parecia capaz de remover a consciência do corpo que a continha, e se observava como se fosse um desconhecido estranhamente familiar fazendo as coisas estranhamente familiares que ele tinha de fazer. Era uma dissociação que nunca sentira antes; sabia que deveria se preocupar, mas estava entorpecido e não podia se convencer que aquilo era importante. Estava então com quarenta e dois anos e não podia ver nada à sua frente que desejasse desfrutar e muito pouco atrás de si que se importasse de lembrar."

Até mesmo a sua intelectualidade, seu refúgio, sua salvação,  foi ponto de questionamento.


" Sentia um prazer sombrio e irônico com a possibilidade de que o pouco aprendizado que conseguira adquirir o tivesse levado a esse conhecimento: que,  no longo prazo, todas as coisas, até mesmo o aprendizado que lhe permitira saber disso, eram fúteis e vazias, e por fim, reduzidas a um nada que elas não alteravam."

Aos quarenta e três anos, a vida de Stoner toma um rumo inesperado.  Ele se apaixona , conhece o amor e vive um relacionamento com uma professora da universidade de nome Katherine Driscoll que também havia sido sua aluna.


O amor de Stoner e Katherine foi bonito e intenso, mas até mesmo na descoberta de algo tão vital à vida humana (o amor) , em Stoner está ligado à intelectualidade.


Katherine Driscoll também era professora e escritora como ele.


" Então faziam amor e ficavam deitados em silêncio por um tempo, e retornavam aos seus estudos, como se seu amor e seu aprendizado fossem um só processo. "

Viveram um tempo juntos e nem mesmo Edith, que tinha conhecimento do caso extra conjugal do marido, se importou.


Mas Lomax, o grande desafeto de Stoner, não deixou barato. Ameaçou não apenas Stoner, mas principalmente prejudicar a carreira de Katherine.


Então Stoner, diante de mais uma bifurcação da vida, para preservar Katherine,  por preservação também de si próprio, mas principalmente por preservação do sentimento que os unia, desiste do relacionamento que construíram.


Foram felizes pelo tempo que lhe fora permitido ser. Após os poucos momentos que havia tido com Grace criança, essa foi a única ocasião de fato feliz na vida de Stoner.


Katherine vai embora e ele retorna com ainda mais fervor para o seu trabalho e para a única vida que não o decepcionava, a do estudo e aprendizado.


"Desejo e aprendizado" , Katherine uma vez disse. "É realmente tudo que existe, não é?"

Durante o processo de descoberta do amor (e também do corpo feminino) por Stoner, John Williams dá uma definição para o amor que só a maturidade é capaz de nos fazer enxergar. O amor não como um fim, mas "um processo através do qual uma pessoa tenta conhecer a outra. "



Na parte final tomamos conhecimento da doença de Stoner. Estava com câncer.


Em seu leito, enquanto aguardava pelo fim, Stoner refletiu sobre o que a sua vida teria sido.


Pensou que talvez não tenha conseguido amar Edith como deveria e na vida que poderiam ter tido.


Pensou que quisera tanto ser professor, mas a maior parte de sua vida havia sido um professor indiferente.


Pensou também em Katherine e na chance que havia desperdiçado.


Mas encontrou conforto novamente nos livros. A presença deles na mesinha de cabeceira ao lado do seu leito era o seu alento.


Pensou que uma parte sua estava e estaria ali, não apenas nos livros que leu, mas principalmente nos livros que escreveu e, quem sabe, dessa forma também pudesse ser salvo pela literatura do destino comum à maioria de nós: o esquecimento.


Somos esquecíveis. Nem todos terão seu nome registrado nos anais da história, mas se chance de eternidade há, essa é sem dúvida,  através da arte.


Livraço de John Williams.

















2 Comments

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patriciamilanis
patriciamilanis
Apr 05, 2024

Quero ler esse livro já, hahaha 😄

Ótima resenha Naty 👏👏

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Esse livro é incrível. Todo dia penso nele . É aquele tipo de leitura que reverbera em você depois de finalizada

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