Frequentemente recebo essa pergunta, mas ao contrário do que algumas pessoas pensam, o nome da página do Instagram e consequentemente desse blog, não faz referência a essa dualidade livros clássicos x livros contemporâneos.
Como dizia Nietzsche
" O autor tem o direito ao prefácio; mas ao leitor pertence o pósfacio".
É o leitor, como indivíduo único, que através da sua experiência de leitura definirá se aquela obra literária é boa ou ruim. Assim, existem clássicos ruins e contemporâneos bons e vice - versa.
Mas apesar da minha clara inclinação para os chamados clássicos da literatura, não ignoro a produção literária feita no nosso tempo.
Sobre isso, José Mindlin fala por mim:
"Sempre defendi a tese de que o livro foi feito para a gente, não a gente para o livro. Não existem regras rígidas que possam ser estabelecidas e, menos ainda, obedecidas, indicando o que deve e o que não deve ser lido. É uma questão de gosto e de interesse pessoal: o mundo da leitura deve ser um mundo de liberdade intelectual. Eu não tenho a menor hesitação em pegar um livro de Agatha Christie depois de ter lido uma peça de Shakespeare. O contraste existe, mas não é pecado, nem sequer pecado venial.”
Vou até repetir: O mundo da leitura DEVE ser um mundo de liberdade intelectual. Cada um lê o que quiser e está tudo certo.
Então, se a relação clássicos x contemporâneos não foi a motivação para a escolha do nome da minha página, de onde vem o "A leitora clássica"?
Clássico remete a antigo. Aquilo que não é desse tempo. É partindo desse conceito que nasce em minha mente a definição de leitor clássico.
Na idade média tínhamos o leitor contemplativo - meditativo. Esse tipo de leitor era caracterizado pela forma solitária e silenciosa de ler.
Apesar de amar compartilhar minha experiência de leitura, meus insights, o ato de ler, para mim, é solitário, imersivo e íntimo. É dessa forma que eu me identifico como leitora.
Essa definição não é minha. Lucia Santaella em seu livro "Comunicação ubíqua: Repercussões na cultura e na educação " vai nos falar sobre os tipos de leitores de acordo com seu perfil cognitivo.
Ela vai defender a tese de que o ato de ler não pode ser restrito à decifração de letras.
"Do mesmo modo que, desde o livro ilustrado e as enciclopédias, o código escrito foi historicamente se mesclando aos desenhos, esquemas, diagramas e fotos, o ato de ler foi igualmente expandindo seu escopo para outros tipos de linguagem."
Lê-se, hoje, de várias formas e se o ato de ler se expandiu , nada mais natural que surjam outros tipos de leitores.
A autora irá dividir os leitores em três grandes grupos e um deles é o tipo de leitor que eu citei acima , denominado de leitor contemplativo - meditativo. Esse perfil de leitor se tornou dominante a partir do século XVI.
Ela disse que
"O perfil cognitivo do leitor (contemplativo - meditativo) do livro pressupõe a prática da leitura individual, solitária, silenciosa. Ela implica a relação íntima entre o leitor e o livro, leitura do manuseio, da intimidade, em retiro voluntário, num espaço retirado e privado, que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento. (...) É uma leitura essencialmente contemplativa, concentrada, que pode ser suspensa imaginativamente para a meditação e que privilegia processos de pensamento caracterizados pela abstração e a conceitualização.(...) Embora a leitura escrita de um livro seja sequencial, a solidez do objeto - livro permite idas e vindas, retornos e ressignificações. Um livro, um desenho e uma pintura exigem do leitor a lentidão de uma entrega perceptiva, imaginativa e interpretativa em que o tempo não conta."
Como vocês podem ver, não trata-se necessariamente do que se lê, mas COMO se lê.
É também o que George Steiner vai denominar de "O leitor incomum". O ato clássico de ler, para Steiner, requer um preparo. Um investimento de nossa parte. Requer interação com o que está sendo lido, intimidade e solidão.
No ensaio "O leitor incomum" (tem resenha sobre esse ensaio aqui), presente em sua obra "Nenhuma paixão desperdiçada", ele dirá que
"Uma leitura genuína requer silêncio. A leitura é um ato silencioso e solitário."
E em seu texto "Aqueles que queimam livros", ele nos fala que
"O ato clássico de leituras, da maneira como tentei definir no meu trabalho, requer silêncio, intimidade, cultura literária e concentração. Na ausência de tais elementos, uma leitura séria, uma resposta aos livros que seja também responsabilidade, é irrealista."
É a predileção pelo texto escrito, o livro lido de uma maneira lenta, solitária, íntima, reflexiva, respondendo ao texto como sugere Steiner, que eu denomino de leitor clássico.
Por isso, me considero uma leitora clássica e não uma leitora que só lê clássicos.

Uma análise silenciosa e solitária, porém cada vez mais compartilhada, analisada. O verdadeiro ato de fruição.
Amiga devo dizer que esse nome combina muito com você, casa muito bem com teu estilo 😊
Interessante, amiga! Sob essa ótica, o termo tem relação com a forma que se ler e não com o que é lido. "Leitora clássica" como sendo o oposto de "leitora moderna", se assim podemos dizer. Confesso que imaginava que o nome "A Leitora Clássica" se dava por conta da sua preferência pelos clássicos rsrs