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Afinal, o que é literatura?

Foto do escritor: A leitora ClássicaA leitora Clássica

Atualizado: 23 de abr. de 2023

Recentemente o universo literário recebeu a notícia de que o quadrinista Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica,  havia oficializado a sua candidatura à cadeira No 8 da ABL (Academia Brasileira de letras).


A cadeira No 8 era ocupada pela acadêmica Cleonice Berardinelli que faleceu em janeiro aos 106 anos.



Em carta ao presidente da ABL, Maurício justifica sua candidatura dizendo que


" Os quadrinhos são literatura pura dos tempos modernos onde o desenho se incorporou para conquistar mais e mais leitores."

Em outro trecho da carta ele fala sobre o que acredita ser a missão do escritor


" Penso que a nossa função, como autores, é criar novos leitores."

Ao afirmar que quadrinhos são "literatura pura", instalou-se a polêmica que tem tomado conta das redes sociais.


Entre as manifestações mais inflamadas está a de um jornalista chamado James  Akel que resolveu também candidatar-se à mesma vaga pleiteada por Maurício de Sousa  por se sentir zangado com a justificativa de que "quadrinhos são literatura " e afirma : "GIBIS NÃO SÃO LITERATURA."


No mesmo instante em que lia as referidas matérias, lembrei-me de um livro que li durante férias de janeiro, "Literatura  ontem, hoje, amanhã da Professora Marisa Lajolo. A autora tenta jogar luz justamente sobre esse tema.



No livro , a autora vai nos fazer refletir sobre questões  como "O que é literatura?" , "Quem define o que é e o que não é literatura "? , "O conceito de literatura mudou através do tempo?"


Recorrendo à história da literatura através de uma linha temporal como já sugere seu título (ontem hoje amanhã ), ela vai dizer que o texto pode vir a ser ou deixar de ser literatura ao longo da história.


" Saiba, por exemplo, que um professor de literatura inglesa contemporâneo de Shakespeare  (1564 - 1616) ficaria espantado se lhe dissessem que Shakespeare era literatura. - Impossible! Never! Aquele sujeitinho que escreve peças cheias de bêbados e desordeiros, e que é aplaudido por plateias fedidas e barulhentas? Alguém hoje duvida que Shakespeare seja literatura  com L, maiúsculo  e tudo ? Aprenda então vivíssimo leitor que ser ou não ser literatura é assunto que se altera ao longo do tempo e desperta paixões. "

Quem hoje em dia seria louco em dizer que Shakespeare não é literatura? Mas também quem foi que disse que é?


A autora vai então nos dizer que a obra literária,  para que ela exista, é necessário que alguém a escreva e que alguém a leia, mas essa interação entre autor e leitor não é suficiente para que algo seja literatura. 


Segundo ela, a literatura precisa ser PROCLAMADA. Alguma "voz" que diga: olha leitor, isso É literatura. 


Quem são esses canais competentes ?


A autora vai citar alguns exemplos como a crítica, os intelectuais, os professores,  o merchandising de editoras de prestígio, a Academia Brasileira de Letras, a escola, entre outras, mas essas vozes são nitidamente institucionalizadas.


Assunto bastante polêmico, não é leitores? 


Mas já podemos entender três coisas fundamentais: literatura não tem apenas uma definição; cada época, cada grupo social, tem o seu próprio conceito de literatura;  a literatura precisa ser reconhecida como tal.


E porque as "vozes" responsáveis por esse reconhecimento desconsideram quadrinhos como literatura?


A autora nos dá um norte. Ela vai dizer que os "resmungões" , aqueles que acham que só a definição deles do que é literatura tem valor, desconfiam de tudo que não é escrito ou que ao escrito acrescente outros códigos. No caso dos quadrinhos, as imagens.


Então, a literatura tem que, necessariamente, ser escrita, editada, publicada em livro? E a poesia visual de Apollinaire? E o que falar do cantor e compositor Bob Dylan , vencedor do Nobel de Literatura 2016?


A discussão vai longe, leitores. E a professora,  com uma linguagem acessível e até divertida nos leva a passear por toda a chamada tradição literária para que ao final possamos dizer o que é literatura.


Como ela mesma fala,


"cada um responda como acha, como pode ou como quer. "


Mas voltemos ao Maurício de Sousa. Quadrinhos sendo ou apenas contendo literatura para os entendidos de plantão, na minha opinião, sua candidatura além de justa é merecedora de êxito por toda a sua trajetória na formação de leitores ao longo dos seus 60 anos de história, trabalho esse reconhecido pela UNESCO.


Marisa Lajolo também me auxiliar nessa questão. Ela vai dizer que


" A literatura  é porta para variados mundos que nascem das inúmeras leituras que dela se fazem. Os mundos que ela cria não se desfazem na última página do livro, na última frase da canção,  na última fala da representação nem na última tela do hipertexto. Permanecem no leitor, incorporados como vivência, marcos da história de leitura de cada um . Tudo o que lemos nos marca."

Tudo o que lemos nos marca. Quem não foi marcado pelos personagens e pelas lições de amizade que emanam das páginas dos gibis da Mônica que diga que não é literatura.


Como já foi dito, cada um responda como acha, como pode ou como queira.



댓글 4개

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patriciamilanis
patriciamilanis
2023년 9월 13일

Acho uma lástima Mauricio de Sousa não ter sido eleito como imortal pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele que tanto contribuiu e ainda contribui para a formação de novos leitores, que marcou tantas gerações através de seus quadrinhos.

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A leitora Clássica
A leitora Clássica
2023년 9월 14일
답글 상대:

Verdade amiga... antes desse post eu até pensava que ele já estivesse

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Fernanda Alcantara
Fernanda Alcantara
2023년 4월 26일

Perfeito Nat. Esse livro nos leva a refletir sobre o papel e sobre o que é ou não literatura. E nos perguntamos: aos olhos de quem? quem define? Literatura tem que ser uma luz e nisso combinamos que Maurício é de sobra. Quantos formadores de opinião não tiveram obras que fascinaram é atraíram de forma despretenciosa nas mãos e que viram suas vidas transformada como os gibis.

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A leitora Clássica
A leitora Clássica
2023년 4월 26일
답글 상대:

exatamente... acho essa discussão tao irrelevante se é ou não literatura. independente disso, por toda a sua contribuição na formação de leitores por gerações, ele merece estar entre os imortais da academia. já deveria estar inclusive

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